- Quinze telas estarão no Conjunto Nacional, a partir desta quinta-feira, 25 de outubro, como parte do programa Paulista Viva e Sustentável
- Uma equipe de filmagem estará no local para gravar novas histórias de mulheres. As mais interessantes virarão pinturas e farão parte de um documentário
São Paulo, 23 de outubro de 2012 – Imagine se a narrativa de sua história fosse transformada em obra de arte? Esse é o intuito da exposição “Meninas do Brasil”, que tem início nesta quinta-feira, 25/10, e vai até 8 de novembro, no Conjunto Nacional. São 15 narrativas de mulheres brasileiras que foram transformadas em pintura pelo artista plástico jesuíta Geraldo Lancerdine. A mostra integra o programa Avenida Paulista Viva e Sustentável, em seu Núcleo de Economia Criativa – NEC, da Associação Paulista Viva.
O trabalho é resultado de pesquisa sobre cultura brasileira, tendo a mulher como foco central da expressão cultural. “O objetivo é dar voz a mulheres anônimas, que muitas vezes são silenciadas pelo abandono, pela exclusão social ou pelo fato de serem pobres, negras e subjugadas”, diz o artista. Entre as histórias estão as de Tereza, de 78 anos, que sofre a falta dos filhos; Alice, que aos 13 anos estava grávida do próprio pai; e a de Judite, 50 anos, que a vida toda espera por um homem que conheceu quando moça.
A mostra exibe grandes telas, de acrílica sobre compensado, algumas com 1,30m x 1,80m. Ao lado de cada obra, há um descritivo da história da mulher retratada na pintura - com alguns fragmentos de depoimentos. Também é possível escutar a voz das próprias mulheres junto às obras em uma cabine que terá uma grande tela, bastando clicar no som. “Espero que o público, ao se deparar com narrativas reais, possa ter a sensação de estar diante dessas mulheres e dentro de suas histórias”, afirma Lancerdine, que é diretor de comunicação da Companhia de Jesus.
Sua história pode virar uma pintura
Junto à exposição ‘Meninas do Brasil’ estará uma equipe de filmagem para gravar novas histórias. Mulheres interessadas em contar sua vida terão lugar cativo. As histórias mais interessantes se transformarão em pinturas e estarão em um documentário que será produzido pela Companhia de Jesus. As gravações serão na sexta-feira (26/10), das 12h00 às 14h00, e sábado (27/10), das 18h00 às 19h00.
Também no sábado (26/10), às 19h00, o coral do Pateo do Collegio fará apresentação de música sacra, no vão livre do Conjunto Nacional.
Geraldo Lacerdine é da ordem dos jesuítas (Companhia de Jesus). Nascido em Minas Gerais, em 1977, formado em comunicação, filosofia e teologia. Abraçou a pintura como modo de expressão aos sete anos de idade.
As obras
Judite – Tela: 1,00 X1,40 cm
“Quando eu era menina moça conheci o homem mais formoso que qualquer mulher pode conhecer na vida. Falava manso, gostava de cantar e assubiá... Quando bati o olho nele, percebi que ele seria o pai dos meus filhos. Eu era tão doida por ele, mas tão doida, que nunca tive coragem de me declarar com medo de ele me dizer não e eu perder tudo, até a oportunidade de só olhar pra ele de vez enquanto. Hoje tenho 50 anos, nunca tive homem nenhum, só tenho a esperança de que um dia ele virá dizer que me ama.”
Analu -- Tela: 1,00 X1,40 cm
“Meu nome na verdade é Ana Lúcia, mas todo mundo me chama de Analu, gosto mais... Desde pequena escutava meu pai batucar com um grupo de amigos no quintal lá de casa. Adorava a sonoridade do pandeiro, o modo rítmico com que ele fazia minha mãe levantar da cadeira e sambar. Por vezes, quando a festança de domingo acabava, eu pegava o pandeiro de meu pai e ficava imitando seus gestos ao vento... Hoje, depois de crescida, não tenho condições de viver de samba como eu gostaria, por isso, trabalho durante o dia na casa de D. Ivone dando faxina. Na labuta do dia, sou Ana Lúcia, a faxineira de casa de madame, mas três noites por semana, boto roupa de chita, flor nos cabelos e vou batucar com o Zé da Guiomar no Goiabada Cascão, boteco lá do centro da cidade. Lá, sem sombra de dúvidas, posso ser eu mesma, ANALU do pandeiro.”
Alice – Tela: 1,30X 1,80cm
“Não gosto de falar de mim, me acho feia, de cabelo duro... Eu queria ter o cabelo liso, tenho certeza que as pessoas gostariam mais de mim! Tenho 13 anos e já estou embuchada... Também não gosto de falar disso... Foi meu pai quem teve a culpa.”
Elizete – Tela: 1,30X 1,80cm
“O pior dia da minha vida foi quando o ordinário do Manuel me abandonou de resguardo no quinto menino... Eu tinha saído do banheiro, quando vi o bilhete depositado em cima da cama... Li e percebi o transtorno do meu desespero... O que eu vou fazer da minha vida? Eu não tenho ninguém por mim e tenho cinco meninos pequenos... Sem rumo, sentei na janela e chorei meu desespero de não ter ninguém por mim...”
Dandara – Tela: 1,00 X1,40 cm
“Do que vale a vida quando não se tem nem o que comer direito? Tenho medo quando chove, pois a enxurrada pode levar meu barracão... Tenho medo que a polícia venha me expulsar daqui, pois moro num terreno invadido.”
Dandara 2 – Tela: 1,00 X 1,40 cm
“Eu te desafio a ocupar o meu lugar só por um dia... Pra você experimentar a dor e a agonia de não ter nem mesmo o que comer... E mesmo assim eu sobrevivo. Minha fé me faz passiva, é só chorar, pra ver chover.”
Odete – Tela: 1,00 X1,40 cm
“Eu gosto de gera menino, é a coisa mais boa desse mundo... Senti o bichinho chutano na barriga da gente! Sabe que eu me sinto meio Deus, criano a vida dentro de mim?”
Tereza – Tela: 1,00 X1,40 cm
“Sinto muita falta dos meus fios. Quando a gente fica velha, o povo some tudo! Eu moro sozinha, fico sozinha, como sozinha, durmo sozinha... das poucas alegrias que tenho é quando os menino liga e diz que vai chegar no final de semana... Aí eu espero, espero e ninguém vem.”
Virgem das dores – Tela: 1,00 X1,40 cm
“Sinto que ela se parece com nóis, que sofre a dor do desespero quando temos pouco pra dar prós nossos filhos... que agoniza sentada do nosso lado nas pernoites frias nos hospitais públicos... Quando perdi a Camila, minha menina do meio com meningite, ajoelhei no meio do corredor do hospital, fechei os olhos e senti a Mãe me olhando com o coração aberto de dor...era o meu coração que estava daquele jeito e ela me entendia...imaginei que colocava a mão no coração dela e...não sei explicar mas o meu ficava em paz..”
Avenida Paulista Viva e Sustentável – Núcleo de Economia Criativa – NEC – Promovida pela Associação Paulista Viva, tem a finalidade de estimular iniciativas que valorizem e difundam a criatividade e os mercados a ela ligados, propiciando um ambiente urbano mais oportuno aos cidadãos. Paralelamente à mostra do artista plástico Geraldo Lacerdine, haverá também no Conjunto Nacional outra exposição de produtos feitos por artistas e artesãos com atividades relacionadas à economia criativa. No dia 31 se outubro, como parte do programa, o sociólogo italiano Domenico De Masi fará palestra no auditório do Hospital Santa Catarina (SP).
Serviço:
O que: Exposição “Meninas do Brasil” – parte do programa Paulista
Viva e Sustentável
Quando: De 25/10 a 8/11, diariamente das 9 às 22 horas
Onde: Conjunto Nacional, Avenida Paulista, 2.073 – Cerqueira César
Entrada Gratuita
Relações com a Imprensa
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